sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Ainda em relação ao referendo

Caro P.R.,

Não se trata de condenar, apesar de as leis servirem para regular valores e atitudes. Quem mata, quem rouba vai preso. Votar "não" (e relembro que muitos vão votar "não", não por causa da despenalização mas sim da liberalização) é dar mais alternativas, mais escolhas. E penso que ter escolhas numa sociedade democrática não é ser-se juiz moral. Porque se o "não" está a julgar moralmente as mulheres (o que a princesa Alice não acha, porque o "não" ajuda as mulheres, apoia-as e desde 1998 que foram criadas inúmeras associacções que dão um apoio concreto às mulheres), o "sim" está a julgar pela vida de um ser que não é seu. Portanto, antes de se dar um argumento deve-se pensar no contra-argumento.
A condenação (que efectivamente não existe, nenhuma mulher foi presa) é uma manobra de show-off que os partidos pelo "sim" fazem. "Há um julgamento? Então vamos chamar os meios de comunicação social para isto dar barraca". Ou seja, a humilhação é feita por quem quer mediatizar os julgamentos e por aquelas mulheres que vão exibir orgulhosamente t-shirts a dizer "eu fiz um aborto" ou "quem manda na minha barriga sou eu".
Se os apoiantes do "não" chamassem os meios de comunicação social sempre que uma mulher, que é apoiada pelos inúmeros voluntários que se empenham em dar escolhas à mulher e à criança, decide ter o bebé é que faziam bem. Ao menos jogava-se o mesmo jogo.
Mas por que é que será que isso não acontece?

1 comentários:

P.R disse...

Cara princesa Alice,

Usando a lógica dos contra-argumentos,

"Votar "não" (e relembro que muitos vão votar "não", não por causa da despenalização mas sim da liberalização) é dar mais alternativas, mais escolhas"

Que escolhas? Empurrá-las para o vão das escadas para fazerem um aborto? Remete-las para a penumbra e para a falta de condições? Permitir que sofram as consequências sozinhas, muitas acabando por morrer, por terem medo de ir aos Hospitais, dos médicos descobrirem que fez um aborto e ser presa?

“Porque se o "não" está a julgar moralmente as mulheres (o que a princesa Alice não acha, porque o "não" ajuda as mulheres, apoia-as e desde 1998 que foram criadas inúmeras associações que dão um apoio concreto às mulheres), o "sim" está a julgar pela vida de um ser que não é seu. Portanto, antes de se dar um argumento deve-se pensar no contra-argumento.”

Este argumento é completamente descabido. O sim DÁ a liberdade à mulher, logo é ela quem escolher quem “julga” a vida que tem dentro de si. Mais uma vez refiro, ninguém pelas suas próprias convicções tem legitimidade para chegar ao pé de uma mulher e dizer "Tu não fazes um aborto, porque eu acho mal". O Não é que julga um ser que não é seu, julga a mulher que decide fazer um aborto. Isso não é um contra-argumento é um argumento distorcido.

"Se os apoiantes do "não" chamassem os meios de comunicação social sempre que uma mulher, que é apoiada pelos inúmeros voluntários que se empenham em dar escolhas à mulher e à criança, decide ter o bebé é que faziam bem. "

Como é que os voluntários que falas ajudam as mulheres e as crianças? Como se traduz esse apoio? Monetário, educativo, afectivo? E durante quanto tempo? Ajudaram a criar a criança? Ou ajudarão apenas a mulher a decidir ter o filho e depois do "ah boa! já salvámos mais uma vida" lavam daí as suas mãos? É certo que é muito mais do que alguns, como eu, fazem, mas isso não é argumento suficiente que justifique que ninguém faça um aborto

E, já agora pergunto: “Será que os defensores do “não” não percebem que mesmo que o sim ganhe pode continuar este trabalho? Que pode continuar a ajudar as mulheres a prosseguir com a gravidez (apesar de não perceber muito bem, quando acaba essa ajuda...). Que pode aconselhá-las a ter a criança, motivá-la para ter o seu filho?

Com a vitória do sim, o que mudará é que as mulheres que decidam NÃO ter a criança tenham também apoio... É dar a liberdade a cada um. Até porque se o aborto é assim tão traumático a responsabilidade será da pessoa que o quis fazer.

A questão é simples. Eu seria capaz de pactuar com um aborto? Tal como tu, acho que não. Será que eu posso impedir que as outras pessoas que o queiram fazer o façam? Sinceramente e, ao contrário de ti, acho que não. Por isso voto sim. Para que tu, eu e o outro possam decidir.