quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Alice e a atitude cívica


Pois é, com o referendo à porta, o tempo para "blogar" não tem sido muito. A princesa Alice, voluntária da plataforma "Não Obrigada" anda numa correria de distribuição de panfletos e de colagem de outdoors. O tempo que ocupa é muito mas a causa é nobre. Nos debates que têm sido transmitidos (a princesa Alice não tem perdido nenhum), alguns argumentos deixam Alice estupefacta. Numa sociedade democrática é óptimo que exista opiniões diversas e Alice faz MESMO um esforço para tentar compreender alguns argumentos do lado do "sim". Mas quando se fala de "coisa humana", de que defender o direito da vida é algo medieval e de que quem já fez um aborto e vai votar "não" é hipócrita é difícil compreender. Os argumentos mais consistentes do lado do "sim" são os jurídicos. Mas de facto, o que está em causa na pergunta não é a despenalização. É uma pergunta 3 em 1: despenalização, liberalização até às 10 semanas e realizado em estabelecimento público com o dinheiro dos contribuintes... Portanto, quando os defensores do "sim" dizem que o que está em causa é somente a despenalização estou a refugiar-se por detrás de uma pergunta que de inocente não tem nada e onde a despenalização vem acompanhada de mais dois apêndices que fazem toda a diferença!

Depois dizem que são contra o aborto! Se são contra não o legalizem! Se algo é considerado maléfico, prejudicial, traumático, então que não se abram portas para o que é mau seja praticado em muito maior escala. O aborto clandestino é uma realidade que não vai acabar. Mesmo que o "sim" ganhe no próximo referendo, muitas mulheres por vergonha social, para não se exporem (porque o que está em causa não é somente uma lei mas uma prática que acarreta cultural e socialmente atitudes que não são vistas como uma conquista pessoal) vão continuar a ir a Espanha ou às parteiras da esquina. Já para não falar de que as 10 semanas e um dia já são criminosas!

Não terá a sociedade alternativas para este conflito de interesses, que pondere os dois lados, mãe e feto? A legalização desresponsabiliza-nos enquanto sociedade. "Queres fazer? Então faz!"

Aqui não está em causa a privacidade dessa escolha. Quando se defende a responsabilização da sociedade nesta causa fala-se de apoio, alternativas que devem ser dadas a quem engravida sem querer. Neste conflito de interesses, quando a vontade única e exclusiva da mãe ganha, implica não a interrupção mas a morte de um ser. E como se diz "para a morte não há remédio". Não se pode nunca voltar atrás.


A princesa Alice pode não andar com tempo para "blogar" mas pelo menos anda a pensar sobre assuntos sérios dos quais não se quer desresponsabilizar.

1 comentários:

P.R disse...

Apesar de todas as nossas crenças e atitudes perante a vida, ninguém tem o direito de impor a forma como vê as coisas a outras pessoas.

Sim, achamos que o aborto é uma prática condenável. Sim, há mulheres que o vão fazer por puro desleixo. Sim, é, para mim, uma atitude condenável. Mas uma coisa é condenar, outra coisa é impedir que a pessoa faça. Ninguém tem legitimidade moral para o fazer. E é disso que se trata, do direito a escolher. É uma questão de democracia